MOVIMENTO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL NA AMÉRICA LATINA
Enquanto países de outros continentes sofreram forte
influência do governo para a adoção da responsabilidade social empresarial
(SER), como por exemplo à Inglaterra, nos países latino americanos, o impulso
para o tema teve origem na mobilização do empresariado e da sociedade civil
organizada.
Hoje em dia praticamente todos os países na América
Latina possuem organizações que promovem e fomentam a RSE. Visando ampliar a
atuação conjunta destas organizações perante RSE, importantes organizações se
formaram nas Américas:
- Redes do setor empresarial como a Rede Fórum Empresa –
Responsabilidade Social Empresarial das Américas (www.empresa.org) com mais de 18 organizações empresariais que
representam 16 países da região;
- Conselhos Nacionais de Empresas para o Desenvolvimento
Sustentável que funciona abaixo do Conselho Mundial de Empresas para o
Desenvolvimento Sustentável, o WBCSD (www.wbcsd.org),
que é uma coalizão de 175 empresas multinacionais de 35 países de 20 setores
industriais que têm uma rede de 50 conselhos empresariais nacionais e
internacionais vinculados a organismos internacionais, universidades, ONGs,
organizações empresariais, fundações e meios de comunicação;
- Redes da sociedade civil como a Rede Puentes (www.redpuentes.org), com membros em 20
países;
- Redes de Organizações que promovem os princípios do
Global Compact e as Metas do Milênio das Nações Unidas;
- O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) / Fundo
Multilateral de Investimentos (FUMIN) na promoção da RSE a nível regional
(Argentina, Colômbia, Chile, Uruguai, Paraguai, Peru, México e Brasil) com o
intuito de incorporar nas PMEs os conceitos de RSE (www.iadb.org/mif);
- A Rede Interamericana (www.responsabilidadsocial.org),
formada por 13 organizações com foco em pesquisa e capacitação no campo da
RSE;
- Universidades começam a estruturar centros de pesquisa
para estudar o assunto.
Isto significa que hoje existem entre todas estas
iniciativas mais de 100 organizações que estão discutindo e fomentando a
responsabilidade social corporativa (RSC) na região e, aos poucos a sociedade
passa a exercer maior pressão sobre o mercado.
No universo empresarial latino americano, sua atuação
social tem origem histórica na filantropia. Quando o tema apareceu, a maioria
das organizações empresariais declarou que as empresas já eram socialmente
responsáveis havia mais de 150 anos e que esta era uma nova maneira de
denominar a contribuição social das empresas na comunidade. As empresas estavam
considerando uma única dimensão da RSE: a relação da empresa com a comunidade,
influenciada por uma cultura da ética católica, onde a caridade e ajuda social
era a forma pela qual as empresas se relacionavam com a sociedade e se
comprometiam com seu desenvolvimento.
O entendimento da RSE como uma nova forma de gestão da
empresa, que diz respeito à busca de uma relação ética, transparente e de
qualidade com todos seus públicos de relacionamento e incorpora às três
dimensões da sustentabilidade – ambiental, econômica e social – de forma
integrada, é muito recente.
Gradativamente, um conjunto maior de empresas passa a
trabalhar com este conceito mais amplo de RSE, buscando aplicá-lo em sua gestão
e arraigá-lo em sua cultura, mas, ainda é pequeno o número de empresas latinas
que, de fato, conseguiram fazer esta transformação.
Não é possível fazer uma análise sem entender qual é o
entorno em que atuam essas empresas nesta região: a falta de transparência dos
atos públicos e privados, a grande desigualdade social e a péssima distribuição
de renda geram instabilidades institucionais e demandas sociais que aumentam
suas desvantagens competitivas de longo prazo. É neste cenário que as empresas
devem operar e traçar suas estratégias comerciais.
Esta realidade política, econômica e social faz com que
as empresas não só devem assumir o desafio de serem globalmente rentáveis,
competitivas, eficientes para gerarem a riqueza necessária, mas também assumir
as expectativas que a sociedade tem a respeito de sua responsabilidade na
superação dessas limitações sociais.
Neste sentido, torna-se imprescindível o fortalecimento
das ações integradas entre a sociedade civil, o poder público e o empresariado.
Outro fator fundamental para alavancar todas as
organizações (seja do 1º, 2º ou 3º setor) para uma gestão mais socialmente
responsável é a disseminação de ferramentas de RSE já existentes, de forma a
instrumentalizá-las para a mudança.
É também imprescindível estruturar um amplo processo de
educação para a sustentabilidade. Neste sentido, o setor acadêmico também tem
muito a contribuir, inserindo a RSE em suas grades curriculares, já propiciando
esta formação aos futuros gestores das empresas.
Estes desafios, se vencidos, certamente potencializarão
os resultados na América Latina, possibilitando o alcance da velocidade
necessária para uma efetiva transformação.
Não podemos falar em um modelo específico de RSC
latino-americano, que se diferencia de um modelo da Europa ou dos EUA, mas não
podemos esquecer que, pelo fato do entorno ser muito distinto, isso faz com que
a RSC tenha impactos mais notórios por aqui.
O Brasil pode ser considerado líder em RSE na região,
concentrando os maiores avanços.
Vale ressaltar, por exemplo:
O papel de destaque no campo da normalização nacional da
Responsabilidade Social - a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)
lançou, em 2004, a norma de RS brasileira – a ABNT NBR 16001, uma das poucas
normas nacionais de RS do mundo. A Inglaterra (BS8900), Austrália (AS8003),
França (SD21000), Israel (SI10000), Japão (ECS2000) Itália (Q-Res), Alemanha
(VMS) também possuem normas de RSE;
O papel de destaque na coordenação de desenvolvimento da
futura norma internacional de RS: ISO 26000 - O reconhecimento à liderança da
ABNT e aos avanços do Brasil no campo da RS contribuiu para que a ABNT fosse
eleita, juntamente com a entidade normalizadora da Suécia, para a liderança do
Grupo de Trabalho de RS da ISO, responsável por coordenar o processo de
desenvolvimento da futura norma internacional de RS - ISO 26000;
O papel do setor financeiro brasileiro na promoção da RSE:
- Com o lançamento, em 2005, do Índice de
Sustentabilidade Empresarial – ISE - da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo
(Bovespa), o quarto índice deste tipo no mundo (Dow Jones Sustainability Index
– DJSI (USA-1999). O FTSE4Good (Inglaterra – 2001), índice SRI da JSE (África
do Sul – 2004).
- Pela liderança na adoção dos Princípios do Equador -
Três anos depois do lançamento dos Princípios do Equador, o Brasil continua
sendo o único representante dos países emergentes no acordo, com a adesão, no
ano passado, de quatro bancos de capital nacional;
- Pela criação de fundos éticos de investimento, a
exemplo do Fundo Verde do Unibanco e dos Fundos Ethical, do Banco Real/ABN
Amro, bem como pela adoção de critérios socioambientais na concessão de
crédito;
- O Brasil também está entre os quatro países com mais
certificações na norma SA 8000 no mundo, após Itália e China, e alterna o
terceiro lugar com a Índia;
- O papel de fomentador no meio empresarial das Metas do
Milênio e do Pacto Global da ONU (o Brasil tem o maior número de empresas signatárias)
- a indicação pelo secretário-geral das Nações Unidas de dois brasileiros (o
presidente da Petrobrás e o Presidente do Instituto Ethos) na Diretoria do GC,
entre os 20 membros;
- A crescente publicação de relatórios com informações
socioambientais por um número cada vez maior de empresas brasileiras;
- O crescente número de países latino americanos que
adaptaram os Indicadores Ethos de RSE (como instrumento de auto avaliação da
gestão socialmente responsável de seus associados) à realidade de seus países.
A Argentina como sendo a primeira a traduzir os indicadores para o espanhol,
facilitando a tarefa dos demais países latino-americanos. (Ver capítulo 5). No
Brasil, em 2005, 617 empresas responderam aos Indicadores Ethos;
- Entre os muitos projetos de mobilização no Brasil, o
Instituto Ethos promove, há sete anos, programa de capacitação para jornalistas
– a Rede Ethos de Jornalistas – que fornece periodicamente informações e
realiza oficinas e publicações para profissionais da imprensa, que também são
agraciados anualmente com o Prêmio Ethos de Jornalismo. Essas iniciativas visam
difundir e aprofundar o conceito de responsabilidade social para o grande
público;
- O Prêmio Ethos-Valor também é um concurso para
estudantes universitários sobre responsabilidade social empresarial e
desenvolvimento sustentável. Lançado em 2000, premia os melhores trabalhos de
graduação e pós-graduação de todo o País. E tem por objetivo incentivar e
aprofundar o debate sobre a responsabilidade social das empresas e o
desenvolvimento sustentável na comunidade acadêmica, envolvendo professores e
alunos de todas as áreas, nos cursos de graduação e pós-graduação, em todo o
território nacional.
Apesar
dos avanços apresentados, há ainda grandes desafios a serem alcançados na
América Latina.
Comentários
Postar um comentário